segunda-feira, 3 de outubro de 2011

No Branco dos Nossos Olhos

Estação Paraíso... Ele espera pouco e o metrô surge em sua frente.

 Algumas tarefas na mente somadas a outras preocupações o fazem sentar detraído com o mundo. Não olha pra ninguém, muito menos olha nos olhos dos desconhecidos que encontra todos os dias. Senta-se próximo a janela, de costas a direção que o vagão segue, ao lado da porta e com o pé escorado no banco azul reservado para os idosos, deficientes ou algo desse tipo.

 Nos fones de ouvido as músicas repetidas que por enquanto não enjoaram ainda. Ele balança a cabeça no ritmo das canções mesmo sabendo que só ele as ouve. Diverte-se sozinho dentro de um vagão lotado.

 Uma olhada entre os corpos que ocupam o corredor e ele enxerga o próprio reflexo na janela oposta.

 Aproveita pra arrumar o penteado que, é importante ressaltar, ele mesmo desenvolveu. Enquanto se penteia o branco dos seus olhos percebe uma face feminina que parece estar olhando para ele. Focaliza a visão e confirma o fato, uma garota.

 Rapidamente ele olha pra frente e tenta disfarçar, mas a garota é linda, perfeita como só uma primeira impressão pode mostrar. Ele então finge que não a viu, balança a cabeça com mais força e entre um solavanco e outro olha para o lado rapidamente.

 É incrível, mas ela continua olhando, olhos castanhos e profundos que assustam e fazem com que o jovem repare nas portas que se abrem e que servem de ótima desculpa para desviar o olhar por mais uma vez.

 "Caramba! Que gata, mas não consigo olhar por mais que dois segundos para ela. Vou criar coragem e olhar de novo, e dessa vez ela que vai desviar o rosto". – Pensa o garoto na espera que o movimento de pessoas no corredor termine.

 As portas se fecham e ele volta a balançar a cabeça, mas nem presta muita atenção no ritmo. Percebe que as pessoas pararam de transitar entre ele e seu futuro amor de resto de vida. Ele então respira fundo e olha paro o lado com um olhar de “Carlos Daniel” de novela mexicana. Depara-se, então, com um olhar de retribuição, que olha de volta dentro de sua retina, praticamente o convidando pra sentar-se ao seu lado. O problema é que esses olhos não são os da garota e sim de uma senhora que se sentou em seu lugar durante a transição de estações.

 -Saco... Perdi a mulher da minha vida. – Fala sozinho, voltando a balançar a cabeça, mas dessa vez com menos intensidade.

 "Que droga, meu cabelo está uma bagunça. Ainda bem que enquanto olhava aquele garoto batendo cabeça no vagão o branco dos meus olhos me fez notar meu reflexo na janela". – Pensa a garota que desceu uma estação antes e andando nas pressas tenta arrumar o penteado que, é importante ressaltar, aprendeu numa revista.